sexta-feira, 26 de junho de 2015

relembrar é viver

Relembrar é viver e de memória é que sobrevive o maior movimento tradicionalista do mundo, no qual tem história, registro, pesquisa, teses, ciências sociais, antropologia e descendência, pois o que vivemos hoje é o que os que vieram antes de nós resgataram no passado e hoje é cultivado diariamente por nós e por aqueles que farão parte das próximas gerações, através do simples passar da cuia de chimarrão ou do gosto pelo churrasco em família nos finais de semana.

Neste segundo dia de luto pela passagem do Patrão Antonio Augusto Fagundes (Nico Fagundes) do potreiro da existência para a estância celeste, onde encontrará o Patrão Velho e todos demais patrões que já partiram. Temos certeza que o General Bento Gonçalves já mandou ascender a Chama Crioula e estará servindo um belo churrasco campeiro ao embalo de uma bela milonga cantada por Teixeirinha, onde todos guerreiros farroupilhas estarão passando um mate de mão em mão e se preparando para um grande baile com Sepé Tiaraju, Leonardo, Gildo de Freitas, Barbosa Lessa, Érico Veríssimo e outros tantos nomes que nos passaram a bravura e a sabedoria que nos orgulha de sermos gaúchos.


Chimarrão
Autoria: Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,
Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.

Trazes à minha lembrança, 
Neste teu sabor selvagem, 
A mística beberagem, 
Do feiticeiro charrua, 
E o perfil da lança nua, 
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha, 
Por onde rolou a história, 
Empoeirada de glórias, 
De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos, 
Ao ronco do teu findar, 
Ouço um potro a corcovear, 
Na imensidão deste pampa, 
E em minha mente se estampa, 
Reboando nos confins , 
A voz febril dos clarins, 
Repinicando: "Avançar"!
E então eu fico a pensar, 
Apertando o lábio, assim, 
Que o amargo está no fim, 
E a seiva forte que eu sinto, 
É o sangue de trinta e cinco, 
Que volta verde pra mim.